quarta-feira, julho 25

em pedra
















Danaide, lhe chamou.
E tornou uma as que eram muitas.
De Rodin para Camillle.
Ou a partir de Camille, pelas mãos de Rodin.
Através da pedra.

segunda-feira, julho 23

Paráfrases, a seis mãos... três pares de asas



Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta.De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é uma linha sub-reptícia.Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois factos existe um facto, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir-nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo e aquilo que ouvimos e chamamos silêncio.

Clarice Lispector ( A paixão segundo G.H.)

-------------
Dá-me a tua mão:
vou contar-te como procuro e temo encontrar, sei do som dos passos e ensurdeço ao amanhecer. De como se sente o estalejar dos minutos e o latejar dos dias.

Dá-me os teus olhos:
vou agora deixá-los percorrer as paisagens de olvido e de segredo, desvelá-los nas profundezas de um azul sombrio.

Dá-me os teus braços:
vou agora acolher-me neles, como em muralha inexpugnável e imune ao passar dos tempos.

Não, não me dês nada do que é teu e te faz falta.
Podes vir a dar contigo como cidadela desconstruída e exposta às estrelas.

Esvoaçante

----------

Dá-me a tua mão.
Olharei, com todo o furor do meu pensamento, para os teus dedos. Escolherei, para cada um, a nota musical adequada à frequência que ressoa no meu coração.

Dás-me cada dedo
E as notas que eles tocam nada mais são que pedaços da minha pele, cuja cor se altera mesmo antes de ser atingida. Não são teclas monocromáticas nem cordas que se/me prendam...

O que me dás

É aquilo que me transforma e emudece. E basta-me o quase toque de um dedo da tua mão para que a ilusão de que sou inatingível desapareça.


Dar e ser

Tendem a transformar-se em tons e meio tons que formam escalas e escadas. Damos e somos. E sonhamos.

Carteiro ou Senhor dos Selos


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Dá-me a tua mão:
saberei encontrar o caminho
dos segredos que guardamos.

Dá-me o teu sorriso:
encontrarei a alma pura

da água que corre da fonte


Dá-me o teu olhar:
conseguirei rasgar as núvens
e alcançar o céu,
lá,
onde é mais azul.


Maria


Não guardes...





















Não guardes uma só palavra de todas

as que amaste. Nem um só nome
para os lugares vazios do mar.


Francisco José Viegas


O não guardes ecoa.
Não guardes o que te pode atormentar nas noites frias nem nos quentes serões.
O que te ensombra a alma e te deixa com a boca a saber a cinzas.
Recusa levar o que já não é ou nunca foi, o que inventaste e perdeu sentido.
Não guardes.

Não guardes em ti, nas pregas da memória, o entendimento para um mundo que nem é teu.
O que acalentaste e se esvaíu, deixando a areia a deslizar no desabamento.
Recusa levar o que te amargura ou entristece, neblina persistente a agarrar-se à pele.
Não guardes.

Não guardes senão o que pode fazer-te prosseguir, aligeirar o passo, animar a caminhada.
Deixa o antigo salão de baile fechado, enquanto as aranhas o tornam morada sua.
Sela as janelas, tranca as portas e assegura-te de esquecer o percurso de volta.
Não guardes.

Recusa levar mais do que o que realmente precisas para a alegria de cada dia.
Viaja ligeiro.

domingo, julho 22

















Pode ser que existam dúvidas e hesitações mortais;
Sei que existe, ocasionalmente, uma abstenção vital.
Um quedar-se.

paráfrases, a 4 mãos...
















Dá-me a tua mão:

Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta.De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é uma linha sub-reptícia.Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois factos existe um facto, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir-nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo e aquilo que ouvimos e chamamos silêncio.

Clarice Lispector ( A paixão segundo G.H.)

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Dá-me a tua mão:
vou contar-te como procuro e temo encontrar, sei do som dos passos e ensurdeço ao amanhecer. De como se sente o estalejar dos minutos e o latejar dos dias.

Dá-me os teus olhos:
vou agora deixá-los percorrer as paisagens de olvido e de segredo, desvelá-los nas profundezas de um azul sombrio.

Dá-me os teus braços:
vou agora acolher-me neles, como em muralha inexpugnável e imune ao passar dos tempos.

Não, não me dês nada do que é teu e te faz falta.
Podes vir a dar contigo como cidadela desconstruída e exposta às estrelas.

Esvoaçante

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Dá-me a tua mão.
Olharei, com todo o furor do meu pensamento, para os teus dedos. Escolherei, para cada um, a nota musical adequada à frequência que ressoa no meu coração.

Dás-me cada dedo
E as notas que eles tocam nada mais são que pedaços da minha pele, cuja cor se altera mesmo antes de ser atingida. Não são teclas monocromáticas nem cordas que se/me prendam...

O que me dás

É aquilo que me transforma e emudece. E basta-me o quase toque de um dedo da tua mão para que a ilusão de que sou inatingível desapareça.


Dar e ser

Tendem a transformar-se em tons e meio tons que formam escalas e escadas. Damos e somos. E sonhamos.

Carteiro ou Senhor dos Selos

sábado, julho 21

paráfrases, de volta...



Dá-me a tua mão:

Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta.De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é uma linha sub-reptícia.Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois factos existe um facto, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir-nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo e aquilo que ouvimos e chamamos silêncio.

Clarice Lispector ( A paixão segundo G.H.)

Dá-me a tua mão:
vou contar-te como procuro e temo encontrar, sei do som dos passos e ensurdeço ao amanhecer. De como se sente o estalejar dos minutos e o latejar dos dias.

Dá-me os teus olhos:
vou agora deixá-los percorrer as paisagens de olvido e de segredo, desvelá-los nas profundezas de um azul sombrio.

Dá-me os teus braços:
vou agora acolher-me neles, como em muralha inexpugnável e imune ao passar dos tempos.

Não, não me dês nada do que é teu e te faz falta.
Podes vir a dar contigo como cidadela desconstruída e exposta às estrelas.

flash back

















É preciso não esquecer nada:

nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos severos conosco,
pois o resto não nos pertence.

Cecília Meireles


O trilho não me precede, segue-me, consoante o faço. Ainda que algo pudesse guiar-me, apenas a minha sombra segue comigo, na vertigem de todos os abismos. Do sentido interior da viagem, quando se está quase a chegar é então que a viagem (re)começa.

sem rimas




Sigo para norte, pela bússola.

Norte do polar, da estrela, do sentido.

Norte não rima com quase nada,
nem com risos, nem com loucura,
nem com gente nem com dia.

Rima com o final e,
sobretudo, rima com força.


sábado, julho 14

entre combates




















mulher guerreira, posição de descanso, em pausa...

Gosto da silhueta da espada, pousada sobre as costas, pronta a sacar.
E da serenidade do ar meditativo.

Mas não se cuide desatenta, distraída ou alheada.
Conte-se com a fluidez das mãos e a rapidez do erguer,
com a prontidão treinada em aparar estocada.

mulher guerreira, parecendo em pausa...

sexta-feira, julho 13

anatomia da felicidade



Os caminhos da vida podem ser comparados a troços entre penhascos.

Trilhos estreitos, muitas vezes.

Sendo que o medo de neles se aventurar pode ser a maior forma de vulnerabilidade.

Forças e fraquezas, de alma e de espírito, acompanham na jornada.

E nem sempre a cautela inteligente bloqueia o frémito de alegria pelo risco vivido.

Um sopro de felicidade vale o trajecto.

E dentro, na memória ao pé das feridas, o contentamento recosta-se.

quarta-feira, julho 11

Há quem





















Recomenda-se não exibir as asas...
ou que é melhor não as mostrar demasiado.

Há quem* as leve no bolso,
Há quem as tire e perca.
Há quem as recoloque.

Há quem, como prefiro, as faça aderir às costas
bem a jeito de adejar quando precisa.
Adejar para partir, voando.

E sempre igualmente a jeito de as saber lá.
Que, ainda assim, isso conta.

(* Em «voo nocturno», Jorge Palma canta que as leva no bolso)

segunda-feira, julho 9




















afagos são flores
---deslizantes como pétalas

afagos teêm sabor, como mirtilos frescos,
---num travo escorrendo mel e seiva

regatos de lava refrescante,
--- a desbravarem por entre os poros


(escultura de Jimenez Deredia, Caricia)

metáforas


... no sombreado difuso,
ainda que na neblina
dos dias,
há coisas que se vislumbram
e coisas que se
veêm muito bem...

Flash



Solidão é condição do ser humano no mundo.
E é fútil tentar driblar...
----
Aceite-se que assim é.
Apenasmente.
Parta-se daí.
Sabendo-se só, viva-se,
respeite-se a si mesmo, expresse-se,
busque-se a realizaçao de Si.
Com os outros, a partir de Si.
---
Apesar de tudo, a felicidade é uma possibilidade existencial.
---
(Pintura de Giuseppe Dangelico)

sábado, julho 7

Flash



















Há imagens assim, evocadoras.
De distância.
De ausência. De inquietude serena.

Imagens evocadoras de viagens, de idas e voltas.

De olhares cintilantes, de alvoreceres esperados. De sorrires fáceis.

Imagens que acordam.
Despertam e abanam.
Trazem de volta sítios
onde se encontrou a melhor e maior verdade de si.
Afagos onde o sentido de regresso
se veste de todas as cores.

De um amor possível.
De um amor em vigília.

quinta-feira, julho 5

procura...















Alguém viu por aí um devaneio?...

Acho que o trazia, sossegadinho, arrecadado num bolso. Deve ter caído ... A verdade é que não o encontro. Alguém o viu? provavelmente, é melhor descrever...

Uma espécie de estrela fugaz e floco de ternura, brilhante e irisdicente, com elos de vida e riso.
Tem uma transparência especial, entre o tímido e o ousado, e faz cócegas na alma, como quem pisa pétalas e se deita em relva molhada.

Bom, se não o perdi, a alternativa é que se
tenha escapulido entre os poros da pele.





















Nome, que não se diz; nome, que não se escreve;
Quem vai meter num som o mundo, a imensidão?

O Amor que nome tem? real, jamais o teve...

Escrever!... pois é pouco um livro - O coração?...

(Antero de Quental)

Tarefa de dizer o indizível...sorte que é sensível e sensitível. (Será??)

Tarefa de sentir o indizível... sorte que é pensável. (Será??)

Tarefa de pensar o indizível... sorte que é oportunidade de reconhecer incapacidades.





terça-feira, julho 3

alguns dizem...
















Some say the world will end in fire,
Some say in ice.
From what I've tasted of desire
I hold with those who favour fire.
But if it had to perish twice,
I think I know enough of hate
To say that for destruction ice
Is also great
And would suffice.

Robert Frost


às vezes, podia ser mesmo pela água

ou pela rarefacção do ar...

(quadro de Santiago Carbonell)