segunda-feira, julho 23

Não guardes...





















Não guardes uma só palavra de todas

as que amaste. Nem um só nome
para os lugares vazios do mar.


Francisco José Viegas


O não guardes ecoa.
Não guardes o que te pode atormentar nas noites frias nem nos quentes serões.
O que te ensombra a alma e te deixa com a boca a saber a cinzas.
Recusa levar o que já não é ou nunca foi, o que inventaste e perdeu sentido.
Não guardes.

Não guardes em ti, nas pregas da memória, o entendimento para um mundo que nem é teu.
O que acalentaste e se esvaíu, deixando a areia a deslizar no desabamento.
Recusa levar o que te amargura ou entristece, neblina persistente a agarrar-se à pele.
Não guardes.

Não guardes senão o que pode fazer-te prosseguir, aligeirar o passo, animar a caminhada.
Deixa o antigo salão de baile fechado, enquanto as aranhas o tornam morada sua.
Sela as janelas, tranca as portas e assegura-te de esquecer o percurso de volta.
Não guardes.

Recusa levar mais do que o que realmente precisas para a alegria de cada dia.
Viaja ligeiro.

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