domingo, julho 22

paráfrases, a 4 mãos...
















Dá-me a tua mão:

Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta.De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é uma linha sub-reptícia.Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois factos existe um facto, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir-nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo e aquilo que ouvimos e chamamos silêncio.

Clarice Lispector ( A paixão segundo G.H.)

-------------
Dá-me a tua mão:
vou contar-te como procuro e temo encontrar, sei do som dos passos e ensurdeço ao amanhecer. De como se sente o estalejar dos minutos e o latejar dos dias.

Dá-me os teus olhos:
vou agora deixá-los percorrer as paisagens de olvido e de segredo, desvelá-los nas profundezas de um azul sombrio.

Dá-me os teus braços:
vou agora acolher-me neles, como em muralha inexpugnável e imune ao passar dos tempos.

Não, não me dês nada do que é teu e te faz falta.
Podes vir a dar contigo como cidadela desconstruída e exposta às estrelas.

Esvoaçante

----------

Dá-me a tua mão.
Olharei, com todo o furor do meu pensamento, para os teus dedos. Escolherei, para cada um, a nota musical adequada à frequência que ressoa no meu coração.

Dás-me cada dedo
E as notas que eles tocam nada mais são que pedaços da minha pele, cuja cor se altera mesmo antes de ser atingida. Não são teclas monocromáticas nem cordas que se/me prendam...

O que me dás

É aquilo que me transforma e emudece. E basta-me o quase toque de um dedo da tua mão para que a ilusão de que sou inatingível desapareça.


Dar e ser

Tendem a transformar-se em tons e meio tons que formam escalas e escadas. Damos e somos. E sonhamos.

Carteiro ou Senhor dos Selos

Sem comentários: