quinta-feira, junho 28

... em eco, distinto




















Acho que nunca questionei o meu corpo em termos de identidade sexual. Questionei-o por todos os motivos, mas não em termos de identidade. Odiei-o de todas as formas e feitios, mas nunca pensei que podia ter antes outras formas e feitios. Como nunca questionei sequer a minha personalidade. Não gostava particularmente dela, era difícil, mas nunca pus em causa que fosse a minha. Como nunca questionei as opções de outros, nem as suas dúvidas, as suas questões com os corpos e as identidades. Ou sequer me pareceu alguma vez estranho que corpos e identidades andassem de mãos dadas, mas não fossem mutuamente exclusivos. E, sim, deve-me ter passado alguma coisa ao lado.
Só pode ter-me passado qualquer coisa ao lado.
Hipatia, aqui

Com um leve sorriso, penso na quantidade de coisas que não me passaram ao lado mas que fiz com que passassem.
E nas que realmente passaram ao largo.
Partilho, com ela, a aversão do contágio ou da impregnação por valores ou ideias que não são realmente minhas. Nem conformes ao que penso.

As pessoas valem porque são pessoas.
O seu valor está para além de milhentas coisas, entre as quais o corpo, a orientação sexual, a cor dos olhos ou da pele, o sítio onde nasceram ou a cor da roupa que usam, o mérito ou o demérito dos seus.
E cada um tem o direito essencial de gerir a sua vida.
De se procurar no corpo que é.
De ser e ter um corpo.
De ser quem se procura ser.
Ou de tornar-se, melhor dizendo.

Não se confunda essencial com acessório.
E não se encha a vida com o que não vale, que se corre o risco de ela passar na mesma.


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