quinta-feira, junho 28

Flash





















Disse-me que uma tarde, olhou para si - como se fosse a primeira vez, que os olhos não levavam nada no olhar. Uma mirada crua, um relanceio despido de entendimento, de quem nada espera. Não ficou triste, não chorou. Faltava-lhe o ânimo para se apiedar.

Contou-me devagar, entre golos de uma bebida amarga, que nem revolta havia, só um desalento do tamanho da tarde. Nenhum vento se ouvia, nem fazia bater janelas. Nenhuma tempestade assolava a moradia abandonada.

Apeteceu-lhe sair e não levar chave nem mapa. Abrir a porta e deixá-la aberta. Largar o dia, e deixá-lo inerte na beira da estrada. Caminhar embalada no vento.

Faço-lhe companhia nesta tarde, não no olhar mas no abandono. Por momentos, sintonizo o meu passo com o dela, e deixo o vento embalar-nos. Atrás do rosto, dentro, em si.

(Woman face, Johfra)

2 comentários:

Maria Carvalhosa disse...

Fogo, menina!!! Este deixou-me sem palavras... e, no entanto, sinto que entrei dentro do texto, que me colei ao "eu" que fala. Talvez por isso...

Beijos, inspirada esvoaçante.

Esvoaçante disse...

foi uma tristemente bela tarde, ou belamente triste. Mas reconstrutora, claro.

beijo, senhora das rosas sem espinhos